"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Amor & Orgulho

Uma dupla de se considerar seriamente: amor e orgulho. Este último é um dos sete pecados capitais e faz, de fato, estragos significativos na vida das pessoas que por ele se deixam dominar. Por outro lado, o tão decantado amor, sem uma dose de orgulho saudável, não passa de fraqueza e insegurança lamentáveis. Sem um mínimo de amor próprio (orgulho) uma pessoa não pode ser admirada e amada (de verdade). Orgulho demais, porém, garante desamor.

Amor e orgulho são como o feminino e o masculino. Um se doa, o outro se preserva. Um pensa além de si, se entrega e se abre, o outro está focado em si, se preserva e se fecha. Amor é do coração, orgulho é do ego. Sem um ego forte e estruturado, o amor é uma meleca pegajosa em busca de algo externo para ganhar forma e consistência. Sem amor, o ego é duro, ranzinza e infeliz.

Na relação de casal, encontrar um equilíbrio para o amor e o orgulho pessoal pode ser um desafio grande, isso porque acontecem eventos que desestabilizam, porque não podemos prever tudo do outro, nem conhecê-lo no seu íntimo. Personalidades diferentes, formas diversas de resolver problemas ou, simplesmente, atitudes imaturas que decepcionam e ferem, podem ser difíceis de superar. 

Perdoar! Ideal abstrato que muitas vezes é auto-imposto ou se quer impor aos outros em nome de uma bondade celestial. E quantas vezes o perdão está fundamentado na realidade viva da pessoa? Quantas vezes não se trata de mera repressão em nome do querer agradar e ser aceito? Não acredito em ideais que não nasçam da carne, do sangue, da cura do real e do concreto. Antes, aceitar a ferida, aceitar o ego ferido: aceitar a dor! Passar por ela para depois, superando-a, tendo chorado todas as lágrimas e gritado toda a revolta, cansar-se, esgotar o tempo, sentir que é hora de ir adiante, hora de voltar em si. E, aí, perdoar, ou melhor, deixar para trás, continuar a caminhada sem apegos visíveis ou invisíveis ao passado.

Há casais que entram em crise e um deles, sentindo-se ofendido (ou rejeitado, ou enganado) e tendo o orgulho ferido resolve romper a relação. Dizer "Basta!" parece postura máscula e forte, digna de alguém que tem amor próprio... Quem dera fosse tão fácil, fosse possível punir o outro, livrar-se dele, com um simples corte. Desce a espada e o laço da união se quebra. Definitivamente? Isso não existe.

Infelizmente para os orgulhosos o amor não está nem aí com o orgulho. Os dois pertencem a departamentos diferentes e pouco conversam. Pode ser que nem seja amor de verdade, aquele amor companheiro, parceiro, recíproco e egalitário. Pode ser que seja uma relação de dependência colorida de amor, mas até que algo parecido com o amor ou o próprio amor existir, cortes reais não são possíveis. E o orgulho se encontra numa estrada sem saída, o que o deixa ainda mais irritado.

O orgulho tende a se prender aos fatos e afundar nas próprias feridas, mas quando o orgulho está ferido, é a pessoa que está ferida. É a pessoa que precisa de um reconhecimento - e de um tempo para se recompor. Tempo de lamber a ferida e deixar passar. Se, no lugar disso, o orgulho ferido leva a ações intempestivas, como romper a relação, se jogar em outro relacionamento e fazer esse tipo de coisas num impulso de ego debilitado, a ferida não só não vai cicatrizar mas vai se espalhar e amplificar.

Se há amor e o orgulho está ferido, o amor precisa aprender alguma coisa nova. Reinventar a forma de amar é um ato corajoso e necessário para a saúde do amor. O orgulho pode estar atuando como um remédio que na dose certa funciona para restabelecer o equilíbrio, mas que em quantidades exageradas, mata. Portanto, antes de condenar o orgulho em nome do amor, antes de fazer a moral na base de conceitos abstratos e idealizados, observemos com atenção e cuidado, o que está em jogo e o que está de fato precisando ser feito. Com amor e honestidade. E antes de se deixar hipnotizar pelo orgulho e todas as suas razões reais ou imaginadas que como um mantra se repetem em nossas mentes, acordemos e pensemos no todo, e no tipo de pessoa que queremos ser. O orgulho ferido pede para o amor mudar, para nossa forma de amar mudar, não pede para o amor sumir, porque sem amor, nem o orgulho faz mais sentido.

 Adriana Tanese Nogueira

Fonte: http://www.psicologiadialetica.com


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