"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

sábado, 28 de dezembro de 2013

TDAH, TC, TDO... e outras pragas

Vou me manifestar aqui como raramente o faço: como mestre, pesquisador e especialista em educação. E antes de faze-lo uma ressalva sobre o por quê evito fazê-lo: nossa sociedade possui vacas sagradas, intocáveis, e dentre estas talvez a mais mística seja a Educação, uma panaceia para os males da humanidade, do ambiente, da vida , mexer com isso sempre me dá dor de cabeça....



E logo por um termo, Educação, que não passa de uma invenção celebrada como eterna e que segundo Illich (Toward a History of needs, 1980, p.88) é freqüente esquecermos o quão recentemente o termo foi cunhado, sendo sua primeira aparição datada de 1498, em um documento francês sobre a formação de crianças. Em inglês o termo aparece pela primeira vez em 1530 e em espanhol, Lopes de Vega, em 1632, se refere ao termo como uma novidade. (Oliver, C. Amigos no Caminho, 2008). POis bem... educar na sua versão mais perversa - escolarizar - está vinculada à sua versão reduzida: o conhecimento, e este transmutado em uma commodity, materializada em um currículo de conteúdos que devem ser produzidos e reproduzidos, da maneira mais universal possível, para o benefício de todos, pressupostamente necessitados dela a priori. (Oliver, C. Opus cit.), e foi formada à imagem do que temos hoje por um menonita arguto chamado Komenius, que percebeu, como homem de seu tempo - tempo imediatamente anterior à Revolução Industrial - que, se era possível ganhar escala manufaturando sapatos, por que não manufaturar gente.... ensinando "Tudo a Todos, do mesmo modo, no menor tempo, da mesma forma, em uma Didactica MAgna"... (como ouvi uma colega bem burrinha celebrar um dia... tava tudo lá!!!).




O grande trunfo desta abordagem da formação humana é que realmente funciona e se adapta bem à biologia da massa dentro da distribuição de uma curva normal. MAs nas pontas....
Bem, ... nas pontas, nem todo mundo se adapta a este mal, e como o Neo de MAtrix, desconfia que tem algo errado ali.... e se comporta de maneira reativa, perturbadora, rebelde... mas aqui vale outra ressalva.
Doenças neurológicas existem: tem autismo, tem hiperatividade, tem desequilibrio de neurotransmissores, tem ausência, e mais um monte de outras condições que trazem sofrimento a crianças e seus pais, que carregam o dia-a-dia pesado e o estigma social acompanhante, e para tais doenças e transtornos existem tratamentos ou tentativas bem fundamentadas de tornar a vida de quem as possui melhor. No entanto, o problema reside na vulgarização destas condições, reduzidas de patologias reais de baixa prevalência em rótulos indiscriminadamente distribuídos por ai.




Desde o século XIX se busca uma "magic pill", um remédio mágico que permita a mediação química do comportamento social.... tudo fruto de um arranjo social maluco, dirigido pelo progresso, a tecnologia, o desempenho e o lucro. Começando com a Cocaina e a Heroína (Freud usava as duas), vendidas em farmácias até pouco antes da II Grande Guerra, chegando ao Valium dos anos 60, e desembocando na Ritalina de hoje em dia (vide post abaixo), essa busca é o santo graal da MAtrix: um remédio que nos faça cooperar com a loucura.
Independente do fato que existem crianças com quadro neurológico de Hiperatividade real, hoje qualquer criança questionadora, inquieta, imaginativa, agitada, ou simplesmente filha de pais ausentes, que usam as telas como babysiter, que não colocam freios em meninos e meninas inconvenientes e simplesmente mal conduzidos por seus pais excessivamente ocupados em ganahr dinheiro, recebe o diagnóstico fatal: "Ah... ele(a) é hiperativo(a)"... e ai... toca anfetamina nela(a). Começa a formação do Zumbi.




Dai quando chega a puberdade, o guri ou guria - cujos pais continuam absortos em sua incapacidade de serem pais e serem muito competentes ganhando a vida - apresenta o seguinte comportamento " transtorno disruptivo, caracterizado por um padrão global de desobediência, desafio e comportamento hostil. Os pacientes discutem excessivamente com adultos, não aceitam responsabilidade por sua má conduta, incomodam deliberadamente os demais, possuem dificuldade em aceitar regras e perdem facilmente o controle se as coisas não seguem a forma que eles desejam." (Pinheiro, 2004 - Rev. Bras. Psiquiatr. v.26 n.4 São Paulo dez. 2004) e ai recebem um outro CID ( 91.3) Transtorno desafiador opositivo, ou TDO. Antigamente chamado simplesmente de "Rebeldia do jovem", que questionava muito, e paria novos mundos. Mas ai... Metilfenidato neles ( a tal ritalina de novo). Mais Zumbis obedientes. Por fim, ele pode chegar a ter outro diagnóstico (sempre lembrando que tais situações neurologica reais existem em percentuais muito abaixo do encontrado, e quando existem causam sofrimento a quem o porta e quem o acompanha) TC: Transtorno de Conduta. E toca anfetamina no bicho.
Bem.... o tempo ainda não passou, os primeiros pacientes que usaram ritalina ainda não chegaram à meia idade... ninguém sabe ainda o que será deles.... mas as sombras vão surgindo...




O post ficou longo, depois volto ao assunto, mas para resumir, convido você, nesse novo ano a repensar suas muitas horas longe de casa, o desinteresse que mostra pelo seu filho ou filha quando não lhe corrige ou limita, mostrando de fato que você não está nem ai para ele ou ela, o Pai que ama repreende, exorta, encoraja, anima, faz arcar com responsabilidades e por vezes, se for muito, muito necessário pune, limita, por que melhor que o faça quem ama, do que o mundo com suas leis. Reduza seu rítmo, desligue a praga da TV e cancele a TV a cabo, tire seu filho das mil atividades dele, viaje menos, vá menos a reuniões, mande o mundo Às favas. seu filho e sua filha valem muito mais. Ele ou ela não tem, muito provavelmente TDAH, ou TDO ou TC... eles tem TDPPM (Transtorno de deficit de presença paterna e materna), TFAPO (Transtornode falta de atenção de pais ocupados), ou simplesmente PSRSP (Pais sem referência de como ser pais). Desligue o mundo e fique em casa.... pois nesse caso se aplica bem o dito famoso "De que vale ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma"... e seus filhos são, seguramente, a alma e razão maior de sua casa. Falei resumido, falei incompleto, pois aqui não é espaço de texto longo, mas ficou enorme, desculpe a incompletude das idéias, isso é só uma atiçador de curiosidade, e , se você leu até aqui, desculpe a enormidade do texto.

 Bom dia.



Cláudio Oliver


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