"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

sábado, 3 de agosto de 2013

Consciência



Adriana Tanese Nogueira

Consciência é discernimento. Ter consciência é sair da visão borrada, do entendimento confuso e do sentimento embaçado. Ter consciência é enxergar com clareza pelos olhos da mente, destrinchando, dividindo e unindo. É orientar-se e encontrar o caminho.



Consciência no pensamento

Mentalidades são tudo na vida, elas demarcam o horizonte, o que se acha que se pode e deve fazer. As decisões que se tomam dependem do que se pensa. As oportunidades que se aceitam e as que se deixam cair, também. Crenças são herdadas da família, ambiente, mídia e amigos: quantas delas são objetivamente avaliadas? E quantas se incorporam como um dogma? Muita amputações desnecessárias da personalidade são realizadas em nome do que se acredita. Sofrimento é imposto a pessoas queridas por causa de uma maneira de pensar.

Consciência é analisar o que é real e distingui-lo do preconceito. É soltar do constrangimento de idéias antiquadas e mofadas. Olhar de perto permite conferir a lógica no raciocínio ao qual se deu a liderança da nossa vida. Refletir sobre o conteúdo do pensamento significa descobrir suas falhas e seus pontos de força, purificando-o da poluição da crendice. Inevitavelmente, isso leva à criação de novos espaço, novas ações, perspectivas e atitudes na vida.


Consciência no sentimento

Apesar de muitas pessoas viverem pelo e de sentimento, pouco ou nada se sabe de fato sobre ele, a não ser que atraia ou rejeita coisas e pessoas. É uma cola ou uma alergia. Sentimentos unem seres humanos os quais, após anos, podem estar grudados uns nos outros como chiclete nos dentes. “Amor”, “Carinho”, “Amizade” têm mil e uma caras. Estou inclinada a pensar que se alguém se venturasse a estudar com lucidez cada uma delas, fugiria da maioria. Relações interpessoais são tão indispensáveis quanto podem se tornar lugares de desconfortáveis ambiguidades. Sobre esses equívocos afetivos se moldam vidas, e se monitoram comportamentos e se definem escolhas.

Consciência aqui é verdadeira libertação. Tem-se muito medo de analisar relações, de confrontar com franqueza o que é… e o que não é. Teme-se a ambivalência que caracteriza o humano, a contradição do sentimento e acredita-se que sem a uma boa dose de cegueira não haveria relação. Esta fantasia nasce do sentimento de culpa por aquilo que se sente e se é, como também da baixa auto-estima que não permite ousar e avançar com firmeza na vida. Essas condições tornam o sentimento dócil gregário, ao invés de uma força mobilizadora.

Consciência na sensação

Pelo entorpecimento dos sentidos é possível tolerar sujeira, feiura, barulho, poluição. É necessário um certo grau de dormência mental e sentimental para viver no caos de uma casa sem liderança, bagunçada e desregrada. Infelizmente, esta realidade afeta muitas crianças que quando adultas a reproduzem porque é a única coisa que conhecem. A grosseria dos sentidos é evidente na qualidade de vida que se aguenta, na comida que se aceita comer e na forma como se passa o próprio tempo livre.

Consciência é aqui a apuração dos sentidos, uma melhor definição da imagem, do som, do sabor, do olfato e do tato. Consciência é enxergar o que se está fazendo e como se está vivendo, é relacionar a dor de barriga com a escolha feita ou o alimento ingerido. É ter preferências individualizadas, perfeitamente congruentes com o próprio corpo, espírito e mente, e totalmente fora de qualquer modelo abstrato e dado. 

Consciência na intuição

A intuição é uma das dimensões psicológicas mais confusas. Frequentemente desejos nem sempre percebidos se fundem com imagens interiores, ou melhor, as norteiam para que elas assumam o significado que se almeja, e ao resultado final disso dá-se erroneamente o nome de “intuição”. Intuições, ao contrário, são um elemento totalmente livre e puro da psicológica individual. Uma vez que o ego e suas intenções mascaradas ou explícitas tentam agarrá-la, a intuição dissolve-se. Mas antes de saber disso, fantasias são amalgamades a embriões de intuição que, vazando do inconsciente, são imediatamente apropriadas e transformadas na ficção que o ego deseja.

Consciência é fazer ordem, separado os reinos e permitindo o fluxo desembaraçado das intuições. Elas sempre são boas mesmo quando não concordam com o que se pensava ou queria. Ouvi-las poupa tempo e energias, evita o desgaste e torna o caminhar mais ligeiro e suave. 

Consciência é rio descontaminado, correnteza borbulhante, água fresca e límpida que corre ao mar. O mar do conhecimento universal e da evolução humana.

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