"Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera... Quando entrar setembro..." (Beto Guedes)

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Só mudamos a nós mesmos: verdade?

Adriana Tanese Nogueira


Uma das grandes lições da vida é aquela de  aprender a aceitar o fato que não podemos "mudar aos outros". Em teoria, todos concordam com essa frase: mudamos só a nós mesmos, não aos outros. Quem já tentou mudar alguém conhece o impasse, é como tentar derrubar uma parede de borracha: ela sempre volta ao estado anterior. Entretanto, se avançarmos no autoconhecimento fazemos uma descoberta bem interessante: podemos mudar aos outros, sim! O movimento que permite essa processo é dialético, não linear "causa-efeito". 

Vamos entender como funciona essa dialética da mudança. Fase 1: quero mudar meu namorado porque ele está fazendo coisa errada, sofre e/ou me faz sofrer. Fase 2: já fiz de tudo e ele não muda, parece até que quanto mais eu tento mais ele fortalece o jeito errado que estou tentando mudar. Eu só posso mudar a mim mesma. Fase 3: Resolvi entender meu comportamento e me trabalhar. Aconteceu que, mudando a mim mesma eu induzo mudanças nele.

Nossa identidade e modo de ser são o resultado de uma, aliás de muitas relações. Nós somos relação. Quem não sabe que o filho de pais agressivos com toda probabilidade irá repetir os mesmos abusos sobre seus filhos? Que a criança rejeitada se tornará um adulto que rejeita? Temos inúmeras provas de que podemos mudar aos outros - para pior. Basta bater (física ou psicologicamente) muito numa pessoa por tempo suficiente e o dia em que ela terá uma arma (física ou psicológica) na mão irá usá-la. A questão, então, que nos interessa é como criar mudanças positivas, ou supostamente positivas. Quando se pensa em mudar alguém se visualiza uma processo que retire o ruim e deixe ou desenvolva o bom. E como é difícil fazer isso acontecer!

O fato é que não podemos moldar o outro. Cada um já vem com bagagem e história, e aqui entra a questão da aceitação da outra pessoa e do respeito a ela. Temos que ver se queremos realmente a tal pessoa ou se queremos usar o indivíduo para fazer dele o ideal que temos na nossa cabeça. Por outro lado, porém, o nosso comportamento influencia, sim, o do outro, e isso porque formamos todos um sistema onde qualquer mudança se reflete no todo.

Em sistemas pequenos como o de casal as mudanças repercutem com muita mais intensidade do que em sistemas grandes como o social. Se observarmos com atenção, toda relação responde a leis internas. Uma mulher solícita, que se coloca em segundo plano, que não assume o que precisa terá marido e filho preguiçosos e egoístas, ambos usando sua posição, um de "homem da casa" e o outro de "filhinho da casa", para manter as conveniências deles. Uma mulher ingênua demais terá um homem aproveitador, e o fraco terá a manipuladora. E assim em diante.

Num movimento dialético, é possível ver claramente a interrelação entre um e outro. Logo, a frase "só se pode mudar a si mesmos" continua válida mas numa nova acepção. O crânio de cada um é individual e fechado, mas a psicologia não existe trancada no  individual. Nada está separado de nada, estamos todos em relação. A contaminação se espalha com rapidez. E é por isso que escrevo este artigo, para fomentar a mudança. Cada ato nosso tem repercussões. É por isso que quando uma relação precisa de mudanças, basta que um comece o processo que o outro terá de lidar com ele, inevitavelmente. Quem sabe o que faz e porque faz pincela o mundo de novas cores.


Fonte: http://www.psicologiadialetica.com

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